3 – Riqueza
e divida pública
Frases como a de que “temos os cofres cheios” ou que
“estamos mais pobres do que em 2011”, tem sido lançadas na opinião pública nos
últimos dias, dai que seja objectivo deste capitulo verificar afinal qual é o
estado das nossas finanças, estamos assim tão ricos que nos podemos dar ao luxo
de pedir dinheiro emprestado, pagando os respectivos juros, só para dizer que
temos os cofres cheios? E estamos ou não mais pobres do que em 2011.
Em primeiro lugar, tanto quanto sabemos, é um autêntico
disparate em nossa casa pedirmos dinheiro emprestado, só para o ter debaixo do
colchão, e sem efectuar qualquer investimento, e ainda por cima a pagar juros.
Faz-nos lembrar um conhecido nosso, que aqui há anos comprou acções pedindo
para o efeito dinheiro emprestado ao banco. Não sabemos qual foi o desfecho,
mas sabemos que as referidas acções nunca mais subiram, e os juros lá
continuaram a ser cobrados, não temos a certeza, mas achamos que a coisa não
acabou lá muito bem.
Em segundo lugar, o que é a riqueza duma casa duma família
de um povo? Em nosso entender a riqueza traduz-se num conjunto de bens e
valores que se possui, logo a riqueza de um povo passa pelo seu deve e haver,
quanto se produziu e quanto se deve.
Sabendo que o PIB Produto Interno Bruto, PIB, representa o
conjunto de todos os bens e serviços produzidos num determinado local durante
um período determinado, vamos analisar esta variável, para assim sabermos se
nos últimos anos houve um aumento do mesmo ou não.
Ao olharmos para o próximo gráfico ficamos a saber que o PIB
a partir de 2011 teve um decréscimo acentuado, e ainda que em 2013 e 2014 tenha
obtido uma pequena recuperação, no entanto verificamos que o PIB em 2014 é
muito semelhante ao de 2007, quer dizer, em vez de melhorarmos a nossa economia,
regredimos cerca de 7 a 8 anos.
Na verdade em 2007 o PIB era de 175 mil milhões de Euros e
em 2014 o mesmo PIB é de 173 mil milhões.
Mas podemos ainda comparar outro indicador para nos ajudar a
saber se estamos mais ricos ou pelo contrário estamos mais pobres, e esse
indicador é o rendimento per capita o qual indica o grau de desenvolvimento
económico de um povo. Este consiste na divisão da soma dos salários de toda a
população pelo número de habitantes desse país.
Ora segundo os dados da PORDATA, a nossa fonte para este
trabalho, em 2006 tínhamos um rendimento per capita na ordem dos 15 800 euros
por pessoa. Este valor foi subindo até atingir o pico dos 17 mil euros em 2010,
e a partir daí voltou a baixar, chegando mesmo aos 16 mil em 2012. Teve uma
leve recuperação mas o certo é que em 2014 o seu valor encontra-se perto dos
valores de 2007, com um rendimento per capita de 16 675 euros.
Mas a riqueza de um país não se vê apenas pelo seu PIB nem
pelo rendimento per capita, mas também pelas dívidas que esse país tem.
Um país pode ter um rendimento baixo, mas se não tiver
dividas a sua população tem uma vida mais desafogada do que um país com um bom rendimento
mas com uma divida pública muito grande.
Ora Portugal, infelizmente não tem um rendimento muito
grande e ainda por cima tem uma divida enorme aos seus credores.
Mas vamos ver qual tem sido a evolução dessa dívida pública.
Em termos da relação entre o PIB e a divida pública, verificamos
que a taxa da divida pública tem vindo ao longo dos anos sempre a subir, agravando-se
nos últimos anos.
Em 2005 a divida situava-se nos 67% do PIB, tendo subido gradualmente
e em 2011 a mesma encontrava-se já nos 111% (não esquecer que 2011 teve dois
governos responsáveis pelas finanças públicas, pelo que deverá ser imputado aos
mesmos esta subida).
Contrariamente ao prometido, a mesma não estabilizou nem
baixou, antes pelo contrário, aumentou e muito e é assim que em 2014 atingiu um
valor na ordem dos 130% do PIB, (teremos de trabalhar de borla um anos e mais
quase quatro meses para podermos pagar a nossa dívida).
Mas este governo até poderia argumentar que os 130% tem a
ver com a baixa do PIB, mas não o faz, e por uma única razão, porque ai estaria
a dar o braço a torcer e admitir que o nosso país tem vindo a empobrecer cada
vez mais.
Para terminar esta análise, nada melhor verificarmos quanto
é a nossa divida em termos reais, ou seja, quanto é que devemos em valores
absolutas.
O gráfico mais uma vez não engana, a nossa divida é sempre a
crescer, pois em 2005 devíamos cerca de 106 mil milhões, valor que subiu para
os 196 mil milhões em 2011 e dai para os 225,7 mil milhões em 2014
Portugal não está mais rico, antes pelo contrário, temos um
rendimento semelhante ao de 2007 com uma agravante, a nossa dívida actual o dobro da que tínhamos em 2006 (115 mil milhões).
Isto é comparável dizermos que uma pessoa está rica, quando
sabemos que recebe o mesmo que à oito anos, com todo o aumento do custo de vida
e que ainda por cima duplicou a sua dívida.
A este ritmo não vamos lá, é trabalhar, trabalhar, recebendo
cada vez menos e a divida sempre a aumentar, jamais conseguiremos quebrar este
ritmo de empobrecimento a que estamos votados.
(continua)