18 de fevereiro de 2016

Dividir para melhor reinar



Do general chinês Sun Tzu (séc. V a.C.) ao pensador florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527), a ideia de dividir para reinar sempre foi associada à estratégia de separar as forças inimigas para enfraquecê-las e, assim, vencer a batalha.
Dividir as próprias tropas, porém, não é uma prática comum, mas foi a base do plano implementado pelo governo de Passos Coelho, ele foi os trabalhadores desempregados contra os trabalhadores no activo, ele foi empregados a tempo incerto contra trabalhadores com vínculo definitivo e a pior dessas divisões foi a de colocar trabalhadores do sector privado contra os trabalhadores da administração pública.
Não é por acaso que hoje em dia, qualquer trabalhador do sector privado diz sem qualquer despudor que os trabalhadores da administração pública são malandros, ganham muito e vivem à custa dos impostos pagos pela restante população activo.
Mas há uma coisa que se esqueceram de dizer, são os trabalhadores da administração pública que garante a segurança das populações, são eles que educam as nossas crianças, são ainda eles que garantem a saúde dos Portugueses, também convém não esquecer que é graças aos “malandros” da administração pública que os governos conseguem arrecadar dinheiros para eles próprios distribuírem entre a sua clientela.
Mas vamos falar da recente decisão do governo de António Costa em devolver aos trabalhadores da administração pública o seu horário de 35 horas semanais, contra esta medida tem sido levantado todo um conjunto de objecções que tem como objectivo que a população veja os trabalhadores públicos como uns malandros que não querem trabalhar e apenas gozar à custa dos impostos dos restantes trabalhadores, como se os próprios funcionários não pagassem também impostos.
Basta estar atento aos comentadores de serviço nas TV’s’, todos eles destilam o seu ódio de estimação quando abordam esta questão.
Como nenhum povo poderá evoluir desconhecendo a sua própria história, talvez não fosse mau que os arautos desgraça estudassem um pouco a evolução de horas de trabalho, e essa evolução passa por uma redução da carga horária de trabalho e não pelo seu contrário. Ou não foi para isso que se deram as revoluções, industrial e tecnológica?
Com o aumento das trinta e cinco para as quarenta horas de trabalho ocorrido em 2013, no governo de Passos Coelho pode considerar-se com o maior retrocesso a que jamais de assistiu, podendo mesmo apelidar-se de uma medida contra-natura.
Agora que o governo actual a aprovar legislação para a reposição das trinta e cinco horas não está a fazer mais que a reposição de um direito histórico adquirido pela administração pública.
Para aqueles que são defensores das actuais quarenta horas de trabalho, talvez seja bom saberem um pouco sobre o número de horas de trabalho nos serviços público.

Resenha histórica do horário de trabalho da AP

Parece que a aversão aos trabalhadores que exercem funções públicas não é de agora, pois já em 1926, no seu decreto n.º 12.118 de 14 de Agosto, o governo de então nos dizia no seu preambulo “Considerando que os serviços em algumas repartições públicas correm com bastante irregularidade, devido à pouca assiduidade e falta de compreensão dos seus deveres por parte de alguns funcionários”, decreta-se
Artigo 1.º As repartições públicas funcionam em todos os dias úteis, das onze às dezassete horas.
Se fizermos as contas, teremos seis dias úteis a trabalhar seis horas por dia o que dá, imaginem só, trinta e seis horas de trabalho semanais. Isto em 1926.

Em 1931, o Decreto n.º 19478 de 18 de Abril, estabelece as condições reguladoras da comparência dos funcionários e das suas faltas ao serviço, no seu Art.º 1.º diz que as direcções gerais dos Ministérios e nos serviços destes dependentes, com ou sem autonomia, duraram seis horas em cada dia, iniciando-se às onze horas.
Este decreto estabelece ainda que o pessoal menos, certamente contínuos, limpeza,  etc, deverá entrar uma hora mais cedo, sendo os últimos a sair. Dai que se pondere que o horário de trabalho deste grupo profissional seria de 42 horas semanais.

Mais uma vez fica patente que em 1931, os funcionários públicos trabalhavam 36 horas semanais, já que nessa altura, o trabalho ao sábado era tido como um dia de trabalho normal.
Pelo Decreto-Lei n.º 37.118 de 27 e Outubro de 1948, uma vez que havia necessidade de adaptar o horário de trabalho nos serviços públicos aos usos correntes da vida, no seu Art.º 1º é dito “A partir de 1 Novembro próximo, o trabalho de secretaria em todas as direcções-gerais dos Ministérios e nos serviços destes dependentes, com ou sem autonomia, será de seis horas diárias completas, compreendidas entre as 9 horas e 30 minutos e as 17, com intervalo de uma hora e trinta minutos, das 12 horas e trinta minutos às 14 horas, para almoço ou repouso.

Mais uma vez fica manifesto que o horário de trabalho em 1948 é de 6 dias a 6 horas diárias que dão um total de 36 horas semanais.

Pela primeira vez surge a chamada semana-inglesa, em que os funcionários passam a ter a tarde de sábado livre, tal medida encontra-se decretada no Decreto-Lei 42.800 de 11 Janeiro de 1960, passando, de segunda a sexta, o período da tarde a ser das 14 às 17 horas e trinta minutos, e ao sábado o horário de trabalho fica restrito ao primeiro período com um acrescente de meia hora.
Em 1960, os trabalhadores da administração pública continuam a trabalhar 36 horas, ficando livres as tardes de sábado.
Havendo necessidade de um novo regime jurídico da duração do trabalho na Administração Pública, a resolução n.º 142/79 de 2 Maio, o governo autoriza os serviços não considerados essenciais a poderem encerrar aos sábados de manhã, mediante compensação do respectivo período de trabalho. Assim sendo, o novo horário de trabalho passa a ser de sete horas e trinta minutos às segundas e terças, e de sete horas nas quartas, quintas e sextas, num total semanal de 36 horas.

Esta resolução indica ainda a existência de horários de trabalho de 42 e 45 horas semanais, não indicando quais o grupos profissionais, porém deduz-se que este horário seja praticado pelo chamado pessoal menor, ou seja, auxiliares e pessoal operário.

Em 1970, os trabalhadores administrativos, técnico e técnico superior continuam a trabalhar 36 horas, deixando de trabalhar aos sábados.

Em 1988, era então primeiro-ministro Cavaco Silva, foi publicado o Decreto-lei 187/88 de 27 Maio a estipular o horário semanal do trabalho nos serviços públicos de 35 horas para os grupos técnico superior, técnico, técnico-profissional, administrativo e telefonistas. Sendo de 40 horas para o pessoal auxiliar e de 45 para o operário. Estes dois grupos de trabalhadores passaram em 1991 a trabalhar 40 horas semanais, Decreto-Lei nº 263/91 de 26 Julho.

Em 1988, foi Cavaco Silva, então 1.º Ministro que estabeleceu o regime de trabalho com horário de 35 horas.

Em 1996 o Decreto-Lei 159/96 de 4 Setembro, vem regular novamente o horário de trabalho na administração pública, mantendo as 35 horas, porém no seu Artigo n.º 2, altera transitoriamente o horário de trabalho do pessoal auxiliar e operário, através duma redução anual de uma hora até atingirem as 35 horas semanais.

Assim, gradualmente todo o pessoal em funções públicas passa a ter 35 horas de trabalho semanal.

Em 1998, o Decreto-Lei 259/98 de 18 Agosto, estabelece o regime geral das trinta e cinco horas em todos os grupos profissionais da função pública.

Em 2013, com o álibi da crise económica/política, o governo de Passos Coelho, “pressionado” pela Troika aumentou o horário de trabalhadores da Administração Pública para as 40 horas semanais, Lei n.º 68/2013 de 29 Agosto, medida que foi reforçada pelo Artigo n.º 105 da  Lei n.º 35/2014 de 20 Junho.

Conclusão

Como foi aqui provado, o horário de trabalho da administração pública praticamente há 100 anos que era de 36 depois 35 horas semanais. Foi necessário a implementação de uma política de austeridade para aumentar esse número de horas de trabalho para as 40.

Mas será que a esse aumento da carga horária, correspondeu a um aumento a produtividade na administração pública? Francamente parece-nos que não foi por aumentar uma hora diária de trabalho que o nosso país saiu da crise ou que a austeridade baixou, antes pelo contrário a produtividade manteve-se ou até baixou, sabemos que é muito difícil a aferimos os resultados finais, mas duma coisa temos a certeza, funcionários, sejam eles do público, sejam eles do provado, se desmotivados, baixam o seu rendimento.


PS:

Faltam-nos elementos sobre o horário de trabalho anteriores a 1926, caso algum hipotético leitor deste post saiba de legislação anterior àquela data, agradecíamos a sua divulgação.

2 de fevereiro de 2016

ASSINATURA CONTRATO DE INVESTIMENTO DA MECACHROME



ASSINATURA CONTRATO DE INVESTIMENTO
DA MECACHROME

Mecachrome Aeronáutica e a AICEP assinam contrato de financiamento


A empresa Mecachrome Aeronáutica e o Estado Português irão assinar, no próximo dia 3 de fevereiro, o contrato de investimento que apoiará a instalação de uma unidade fabril desta empresa aeronáutica em Évora.

A cerimónia, que terá lugar no Palácio de D. Manuel em Évora, pelas 17h00, contará com a presença do Primeiro-Ministro, António Costa e do Presidente da AICEP, Miguel Frasquilho, para além do Presidente da Câmara Municipal de Évora, Carlos Pinto de Sá, e de Júlio de Sousa, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Mecachrome.

Também estarão presentes o Ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e o do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, e os Secretários de Estado da Internacionalização, Jorge Oliveira, e do Desenvolvimento e Coesão, Nelson de Souza.

A instalação da Mecachrome em Évora significa um investimento de várias dezenas de milhões de euros e a criação de cerca de três centenas de postos de trabalho.

Trata-se de um importante projeto de investimento que terá um forte contributo para o desenvolvimento do cluster aeronáutico português, bem como para a projeção da competitividade de Portugal como localização para acolher investimento estrangeiro desta dimensão e complexidade, em setores de alta tecnologia.

A empresa portuguesa é detida a 100% pela Mecachrome France, importante Grupo no mercado francês e internacional, especializado na produção de peças de alta precisão para as indústrias aeronáutica, espacial, automóvel e energia.


Com 75 anos de existência, o grupo conta com 14 fábricas em cinco países (França, Canadá, Tunísia, Marrocos e Portugal), mais de 2.400 postos de trabalho com um Volume de Negócios anual superior a 300 Milhões de Euros, e tem como principais clientes Airbus, Boeing, Embraer, Safran, Porsche, entre outros.
(Comunicado da CME)